A exceção: mulher em cargo de alta liderança

Daniela Villas Boas, de 41 anos, já trabalhou em três multinacionais e atualmente exerce o cargo de diretora financeira. Começou a carreira no almoxarifado e passou por várias funções até chegar no setor financeiro, portanto houve um crescimento real e gradativo.

Por não ter nenhuma formação acadêmica na área que exerce, o respaldo que Daniela teve veio da experiência e vivência ao longo dos 15 anos de trabalho. Por isso ela acredita que as pessoas precisam começar do começo, pois só vivenciando o dia a dia da empresa é possível executar um bom trabalho quando chegar ao final da cadeia. Ela acredita que quanto mais um profissional sobe numa empresa, maior a exigência do nível de conhecimento então, sempre há muito a ser aprendido.

Mas como será que foi esse processo de crescimento? Será que o fato dela ser mulher influenciou em algum momento da carreira? Convidamos Daniela para contar um pouco sobre como é ser uma mulher em cargo de liderança nos dias de hoje.

  1. Você acha que o gênero influencia no processo de crescimento dentro de uma empresa? Por quê?

Sim, influencia. Primeiramente, quando um homem entra numa empresa, principalmente no alto executivo, de terno e gravata, a figura masculina por si só impõe muito mais respeito no mercado de trabalho do que a feminina. Isso faz com que o homem acabe saindo na frente numa disputa. Em relação ao processo de crescimento, também influencia, principalmente no início. A carreira da mulher tem uma curva de crescimento mais lenta pois a figura masculina demanda menos necessidade de convencimento para conquistar a confiança dos superiores em relação à feminina. A mulher tem que ralar mais para chegar lá.

  1. Quais os principais desafios que você enfrentou para alcançar o cargo de diretora financeira?

O maior desafio é se fazer ouvir. Você precisa fazer vários projetos, mudar muita coisa, fazer as coisas darem certo, e para isso você precisa que seu superior direto e os colegas de trabalho acreditem em você para ter espaço. Esse processo demanda muito mais de um ano para chegar nesse patamar, então meu principal desafio foi realmente conseguir credibilidade das pessoas que estavam comigo e da minha chefia, para que eles acreditassem no meu trabalho e deixassem eu fazer o que era necessário para que eu pudesse atingir os meus objetivos.

  1. Como você acha que é esse processo de crescimento atualmente (em relação ao sexismo)? Mudou em relação aos últimos anos?

O sexismo é um preconceito velado, não é nítido, mas eu vivi na pele. Eu assumi a posição de um diretor financeiro, que era homem, e o salário não foi o mesmo. A empresa me deu várias explicações para a diferença salarial, mas nenhuma convincente, o que me fez a chegar à conclusão que o preconceito existe sim. As pessoas podem não saber que existe ao agirem dessa forma, mas ele está lá. A maior prova disso é que a maioria dos cargos de diretoria são masculinos. Eu trabalho em uma empresa presente em 72 países que não tem nenhuma diretora financeira mulher além de mim e, aqui no Brasil, trabalho com sete diretores homens, sendo que eu sou a única mulher.  

  1. Você acredita que ainda há muita resistência em aceitarem mulheres liderando empresas e grandes equipes?

Não acredito que há resistência, mas acredito que existem poucas mulheres na liderança porque o trabalho que elas precisam mostrar e provar para subir na empresa é muito maior, portanto o homem consegue chegar muito mais rápido à um cargo de liderança do que uma mulher. Como os cargos altos de uma empresa são mínimos, o mercado de trabalho se afunila na pirâmide e, automaticamente, quem consegue mostrar serviço mais rápido é o que chega lá e geralmente são os homens porque a figura masculina já sai na frente.

  1. Você já passou por alguma situação de preconceito por ser mulher na sua vida profissional? Conte como foi.

Não passei nenhuma situação de preconceito efetivo, só aquele preconceito velado, mas isso também está relacionado com a postura que a mulher tem no mercado de trabalho. É preciso conseguir entrar numa reunião com outros sete diretores e não entrar como mulher, entrar como, no meu caso, diretora financeira. Tem que esquece que você é mulher ou homem. Você precisa entrar como profissional, seja o gênero que for. Então, quando é possível enxergar isso, a vida dentro da empresa se torna mais fácil.

 

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Redatora Ellune
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Este artigo foi produzido por uma de nossas redatoras.

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